quinta-feira

Onde não se caminha, mas onde se rola

"A frieza involuntária desta mulher contrasta com a sua paixão confessada e reage necessariamente sobre o amante mais apaixonado. Essas ideias, que muitas vezes flutuam como vapores em redor das almas, determinam nelas uma espécie de doença passageira. Na doce viagem que dois seres empreendem através das belas regiões do amor, esse momento é como uma charneca a atravessar, uma charneca sem estevas, alternadamente húmida e quente, cheia de areias ardentes e cortada de pântanos que leva aos risonhos maciços de verdura vestidos de rosas onde se expande o amor e o seu cortejo de prazeres sobre tapetes de fina verdura. Muitas vezes o homem espiritual encontra-se dotado de um riso estúpido que lhe serve de resposta a tudo. O seu espírito está como que adormecido sob a glacial compressão dos seus desejos. E não é impossível que dois seres igualmente belos, espirituais e apaixonados falem primeiro dos lugares-comuns mais idiotas, até que o acaso, uma palavra, o tremor dum certo olhar, a comunicação duma faísca, os faça encontrar a feliz transição que os leva à vereda florida onde não se caminha, mas onde se rola, sem contudo descer. Este estado de alma é proporcional à violência dos sentimentos."


Fotografia daqui

2 comentários:

andré raposo disse...

Que dois textos brutais !

Beatrix Kiddo disse...

É um livro cheio de qualidades :)